No final do século 19, através do investimento de cafeicultores, nasceu a indústria brasileira. Tímida e concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro, manufaturava basicamente artigos de vestuário – no primeiro censo industrial realizado no Brasil, em 1907, o número de indústrias era de 3.258.
De 1930 a 1945, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, a indústria nacional foi impulsionada para diminuir a dependência externa do país. Mas se por um lado a industrialização se beneficiou com o fim da Segunda Guerra Mundial – uma Europa destruída precisava importar produtos industrializados –, a exportação de alimentos para estes países gerou uma crise de abastecimento interna, afetando diretamente os trabalhadores que vinham do campo em busca de oportunidades nas grandes cidades. O cenário piorava devido à alta inflação e péssimas condições de salubridade, que refletia em subnutrição, doenças e mortalidade, com altos índices de tuberculose, malária e paralisia infantil.
Logo, os empresários Roberto Simonsen, Euvaldo Lodi, João Daudt d’Oliveira e o educador Brasílio Machado Neto viram que o país não precisava apenas de mão-de-obra para o processo de industrialização, mas também criar um mercado interno estável e sólido, composto por consumidores dos produtos que estavam sendo manufaturados. Elaboraram então, a Carta da Paz Social. O documento inovador estabeleceu princípios e medidas para o custeio de serviços sociais para os trabalhadores com recursos patronais. Propunha a humanização das relações entre patrões e empregados através da criação de serviços sociais da indústria e do comércio, e também a melhoria individual e da qualidade de vida do trabalhador, através de incentivos à boa alimentação, à alfabetização, a cuidados com a saúde e higiene, à cultura, ao lazer e esporte, levando à implantação do Serviço Social da Indústria (Sesi), em julho de 1946.
Para começar
No Paraná, um dos primeiros serviços oferecidos pelo Sesi, foram os postos de abastecimento. Armazéns, vendiam produtos de primeira necessidade a preços 20% abaixo do mercado. Com isso, pretendia-se mudar o hábito da compra pela caderneta, que muitas vezes incluía o acréscimo de juros, e evitar que o trabalhador deixasse no armazém todo o seu salário para saldar a dívida. Além de facilitar o acesso aos produtos, os postos proporcionaram ao operário maior autonomia, melhores condições de subsistência e um maior poder aquisitivo. A Assistência Social também está presente no início da história do Sesi no Paraná, com atendimento psicológico, jurídico e de colocação profissional.
Posto de Abastecimento na década de 1950 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Educação
Como a educação do trabalhador era fundamental para o avanço do setor industrial, o Sesi no Paraná logo lançou Cursos Populares de Alfabetização de Adultos, visando à recuperação do elemento humano pela instrução, aprimoramento da educação individual e melhoria das relações em sociedade. Quando os índices de analfabetismo caíram, o Sesi no Paraná se voltou para a formação continuada dos trabalhadores, dando prosseguimento ao ensino fundamental e médio por intermédio dos cursos supletivos, telecursos e da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Para que as famílias pudessem frequentar os cursos, foram oferecidas atividades de recreação infantil. A evolução aconteceu através da inauguração de creches e cursos pré-escolares.
Legenda: Alunas recebendo os certificados de alfabetização em 1970 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Pré-escola, 1973 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Saúde
A saúde do trabalhador sempre recebeu atenção especial do Sesi no Paraná. A primeira iniciativa foi levar tratamento médico à população desnutrida e refém de doenças pulmonares, reumáticas, câncer e sífilis. Logo de início, a equipe médica do Sesi trabalhou em conjunto com um grupo de visitadoras sanitárias, que atuou nas fábricas e nos lares dos operários ensinando medidas preventivas e de higiene. Durante mais de uma década, o Sesi no Paraná realizou o concurso Bebê Robustez, que ao oferecer prêmios às crianças mais saudáveis,incentivou os pais a levarem os filhos a consultas médicas regulares.
Concurso Bebê Robustez, 1954 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Em 1950 o Sesi no Paraná montou uma estrutura médico-odontológica de alto padrão, com ambulatório médico, várias especialidades clínicas, gabinete de fisioterapia e laboratórios de exames. Na década de 1960, para expandir o atendimento ao interior e potencializar o da capital, foram criadas unidades móveis. Tratavam-se de automóveis equipados com a aparelhagem necessária para levar consultas médicas e odontológicas aos trabalhadores dentro das fábricas.
Unidade móvel de abreugrafia do Cadastro Torácico, 1960 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Esporte, cultura e lazer
No Sesi no Paraná, o esporte teve o seu auge entre 1946 e 1955 com campeonatos de futebol. Logo, outras modalidades, como bocha, natação, xadrez, atletismo, truco, pesca e corrida foram incorporadas, o que possibilitou a inclusão da família do trabalhador nos programas. As atividades culturais do Sesi no Paraná começaram com teatro de fantoches e sessões de cinema nos salões das sociedades operárias. Com o passar do tempo, os espetáculos foram levados às fábricas e incrementados com apresentações dos próprios trabalhadores das indústrias. O Ginásio do Trabalhador, projeto de Rubens Meister, foi inaugurado no dia 1º de outubro de 1974. Com uma quadra retrátil que podia ser convertida em palco, oferecia múltiplas possibilidades de uso, da prática esportiva à realização de conferências e apresentações. Com as atividades teatrais e de ginástica superando às esportivas, o ginásio passou a ser chamado de Teatro do Sesi. No dia 3 de junho de 1991, durante o ensaio de uma peça infantil, houve uma explosão de uma lâmpadas de alta potência, o que ocasionou um incêndio que destruiu completamente o espaço, que precisou ser demolido.
Torneiro Operário de Braço de Ferro na década de 1950 / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Teatro do Sesi / Foto: Acervo Centro de Memória Sesi PR
Nova etapa
Com o industriário e a sua família tendo acesso à educação, à saúde e ao lazer, o Sesi no Paraná voltou suas ações para a prevenção. Apesar doe muitos avanços, o Brasil ainda ocupa o 4º lugar no ranking de acidentes laborais e o Paraná está em 3º lugar no ranking brasileiro de mortes por acidentes de trabalho. O Sesi no Paraná oferece diversas soluções para reduzir estes números e aumentar a segurança e saúde da indústria e dos seus trabalhadores. Para isso, conta com uma equipe de profissionais que elaboram e entregam programas, laudos, treinamentos, consultorias e assessorias que envolvem normas regulamentadoras, condições ambientais, treinamentos e ações educativas. Utilizando-se de unidades operacionais móveis, o Sesi continua indo até a indústria.
Em 2012 lançou o programa Cuide-se+. A meta, através da realização de exames periódicos, é educar para a valorização da vida, contribuindo assim para a redução de acidentes, do índice de absenteísmo, dos riscos relacionados ao câncer e a doenças sexualmente transmissíveis e do consumo de álcool e de outras drogas.
Unidade móvel do Cuide-se + / Foto: Mauro Frasson
Na educação, continuou oferecendo cursos para jovens e adultos na modalidade à distância e oferecendo educação infantil associada à educação, saúde, nutrição e lazer. Em 2005 foi inaugurada a maior rede de ensino médio particular do Paraná, hoje com mais de 13 mil alunos. Atualmente são 55 unidades do Colégio Sesi, sendo cinco delas internacionais, com ensino bilíngue. O objetivo é atuar para o desenvolvimento social e humano, com uma metodologia diferenciada que alia educação, tecnologia e inovação. Os alunos são desafiados a resolver questões interdisciplinares em uma visão sistêmica, a partir de pesquisas que levam à construção do conhecimento e os preparam para trabalhar na indústria, agregando sempre mais ao setor.
Alunas do Colégio Sesi, 2014 / Foto: Gelson Bampi
Em 2008 nasceu o Sesi Cultura para promover o acesso à cultura aos trabalhadores da indústria, com foco em programas de formação artística e cultural, investindo em processos criativos, formação de plateia para todas as linguagens artísticas e na formação e desenvolvimento cultural com vocação local. Nesta perspectiva, inverte a lógica de eventos para ações culturais, fazendo com que o espectador deixe de ser apenas um consumidor de entretenimento e passe a ter acesso a esse bem. Nestes oito anos de existência, mais de 867.377 espectadores tiveram acesso à cultura. Desses, foram 136.322 trabalhadores e 13.000 empresas da indústria que participaram das diversas ações culturais que somaram mais de 6.860 eventos.
A responsabilidade social mantem-se ativa através da realização de ações e projetos de promoção do desenvolvimento humano e social, com a participação em iniciativas mundiais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sendo uma das empresas integrantes do conselho brasileiro do Pacto Global e promovendo ações relacionadas aos Princípios para Educação Executiva Responsável (PRME) e aos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs), além de executar consultorias customizadas para a indústria.
Nesses 70 anos, o Sesi no Paraná evoluiu com a indústria paranaense, adequando seus serviços para oferecer o que o setor realmente precisa para se tornar cada vez mais produtivo e competitivo, sem nunca esquecer de olhar para a principal engrenagem da indústria: o trabalhador.